segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cartão Postal


Olhando os rostos que me atravessam no caminho, penso: somos tão singulares, tão minuciosamente diferentes, particularmente especiais! Mas no entanto, algo escapa de todos estes rostos que me parece vindo do mesmo lugar! Algo no olhar perdido, ou no sorriso que se encontra em si mesmo!

Escute, tenho que te contar o que você já sabe: temos a mesma história de povo brasileiro. 
Sim, povo brasileiro, este que não é nem será nunca delimitado e definível e por isso não posso deixar de resgatar sua vastidão impressa em nosso íntimo.

Tenho isso como especial, um comum único. Tenho como especial fazer parte da história do Maracatu, da Umbanda, das Cavalhadas, das Congadas, dos carnavais, dos mitos e rituais indígenas, da resistência e da fé sertaneja, da Tropicália, da Capoeira, da bossa nova, do Movimento Antropofágico, do samba, das lutas contra as ditaduras... Sou sempre citada nas causos que o caipira conta enquanto enrola seu fumo de corda. Sou sempre afetada pela coragem e pelas mazelas do sem-terra de olhar enrijecido e malemolência no cantar! Estou sempre sendo capturada pelas redes do ribeirinho que vai ao mar buscar o que alimente o corpo e a alma!

Me sacodem por dentro, num furor de estar viva, o giro da baiana e também as comportas de Belo Monte e a angústia dos Kaiowá! Você sente? Sabe com as vísceras do que to falando? 
Se não, sintonize o seu radar pra sentir esse seu arredor e conectar-se com sua história, todos nós podemos saber disso de dentro pra fora. Se sim, vamos indo por este caminho, que cada dia me leva mais perto de você e você de mim!

P.s.: Ouvir Maria Bethania, 2003, Album Brasileirinho

Um abraço apertado e uns beijos nos olhos

Jaqueline Olina

quinta-feira, 21 de julho de 2011

o meu momento


as férias,
os dias,
folga.
folga?

os dentes rangendo, a cabeça fritando, o estômago doendo, os cabelos caindo, a bolha, as brigas. os amigos, as distâncias, as ligações, os encontros, as noitadas.

tanta espera pra mais do mesmo.

o horóscopo, o tarot, o cigarro, o alcool, o cigarro, o alcool, o cartão ("me liga se precisar"), as águas quentes.
a água fria.

as propostas, os desafios, as consultas, os exames, as cartas.
A impressão é de um lugar intimamente desconhecido, aquele beco escuro que só existe na minha cabeça, de onde eu fujo de qualquer jeito pra não enfrentar meus demônios.
O fato é: não há como fugir de sua própria natureza, não tem porque fugir de seu próprio inferno e que ninguém vai ao céu sem saber de si mesmo.
Então é isso que estou fazendo aqui no inferno procurando meu eu diabólico, este que anda falando em meu nome.
Até que ponto somos capazes de assumir nossos demônios? Aquela vontade de comprar uma galinha preta e ir pra encruzilhada mexer com coisa podre. Poder, magia negra.
Pobres pessoas sem luz aquelas que não lamberam suas próprias feridas e gostaram do gosto do sangue. Aquelas que não duvidaram de Deus, de si mesmo e de sua própria sanidade. Aquelas que sempre optam pelo simples e vazio. Aquelas que nunca se afundaram até o pescoço na lama e que acharam que por ali ficariam até morrer de fome. Aquelas que nunca olharam através dos buracos de suas almas, aquelas que escondem e remendam os buracos. Aquelas que não gostam de olhar pra trás e que só querem sempre seguir em frente. Aquelas que nunca ficaram dias sem tomar banho, escovar os dentes, atender o telefone. Aquelas que tem um manual de instruções pra sobrevivência na selva humana. Aquelas que nunca foram acusadas de loucas, estúpidas e egoístas. Aquelas que não sabem o que é qualquer uma destas coisas e portanto não sabem o que é superar isso.
Alguém já disse por aqui e eu gostei: "se uma árvore pretende lançar sua copa aos céus deve primeiro fincar suas raízes no inferno".
Mas cuidemos para que esta descida ao inferno não nos deixe sem ar puro pra respirar.
Toda crise pari um novo ciclo, um avanço no saber de si. Eu por enquanto ando me angustiando com as águas turvas do lago do passado, os cães sedentos na porta do inferno, a foice da morte, a minha parte do inferno, afinal, ele também está em nós. Não saber o que fazer é lema nesta fase. Mas querer fazer já é fruto do ar novo que vem vindo por de fora desta vagina que parirá a mim e aos meus novos braços, mãos, pernas e mente.
Na pressa, o prematuro grita. Mas eu não posso.
A gestação é intrinsecamente só.
Ai: o meu insuportável silêncio e minha difícil companhia.
adeus vou embora, meu bem. chorar não ajuda ninguém... a seca mal começou?
E eu ainda estou esperando o alinhamento dos planetas...

domingo, 10 de julho de 2011

mais um início

Hoje (29/06) é dia do meu aniversário e 02:45 da madrugada estou sentada em minha cama (sem tomar café ou querer fumar) para pensar em mim.
Tenho tido vontade de falar sobre coisas e pessoas: as fofocas, as entrigas, os vícios, os fluxos de energia, as pulsões, os amores.
"O nosso amor não é um castelo de cartas. É um castelo de pedras" que pode ficar frio e escuro, mas confortável e quente também. Pense no Sol e nas manhãs!

* Essas malditas línguas, que são mais bocas do que gente e mais falam do que olham ou sentem. Pois que estas más línguas se mordam e se rasguem e que encontrem mais espelhos em seus caminhos.

* As negociações são inesgotáveis. Sempre. A vida é toda feita delas e não é possível fugir (como não se foge do tempo). Se eu te tomar um pedaço maior isso fica registrado e lá vamos nós de novo..

* O impulso é o presente do diabo. A Caixa de Pandora. É a água e o fogo, queima e afoga. Mas Deus escreve certo por linhas tortas, afinal, linhas é o que sobram pra limitar os impulsos. (Ainda bem que veio tesoura no meu Kit de sobrevivência alive). Sai por aí sem limites menina? E com uma tesoura? Ah, pois sim, tomara que encontre barreiras de pedra.
O impulso, com toda a força que o faz ser, arrebenta pra fora o bom e ruim. Mas se, por acaso arrebenta pra dentro, aí então é sempre ruim. (Chamam de individualismo, eu acho que é auto-preservação)

E sair por aí falando esquizofrenias mentais, essas conversas lunáticas!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Abre parênteses


Passei o dia todo nessa maravilha virtual que é o twitter. Acompanhei o debate de questões como o novo Código Florestal (o que, entre outras coisas, diminui as áreas de preservação permanente e da anistia a multas por destruição do meio ambiente) e a luta pela criminalização da homofobia (ou pela popularização da mesma – pasmem: http://mtv.uol.com.br/memo/deputado-jair-bolsonaro-distribui-cartilha-antigay-em-escolas-do-rj). Vi ainda outros debates nada importantes como o humor de meus coleguinhas e/ou o que comeram, arrotaram e não gostaram e se querem transar ou não entre outros blás.

Alem disso, tenho bastante fresco em minha memória (e quem me conhece sabe que isso é raro) outras polêmicas que vem acontecendo e que qualquer um ouve falar nas conversas diárias, nas aulas, pelo movimento estudantil, ou pela própria mídia comum. São elas: a aprovação das Novas normas de graduação na UFU (aquelas mesmas que dão nota zero a quem tranca e traz a possibilidade de jubilamento por reprovações); o aumento absurdo da gasolina e dos alimentos básicos (precisa dizer mais alguma coisa sobre isso?), estudantes levando baculejo pela ROTAM dentro da UFU (por fumar maconha, o que em minha opinião não justifica, aliás o debate da descriminalização das drogas no Brasil ta um tanto atrasadíssimo); o aumento da passagem de ônibus em todos os cantos do país (e gente levando porrada da polícia por protestar contra isso); a usina de Belo Monte já sendo encaminhada (morram afogados povos da floresta que se recusarem a deixar suas terras de origem); a Medida Provisória 520 que cria uma empresa privada (dessas que você até poder comprar ações na bolsa de valores) para administrar (com dinheiro público) a saúde pública, com vistas de que em um curto período de tempo esta empresa administre toda a rede de saúde pública (o que ao meu ver soa como, ops, não teremos mais saúde pública. Aliás postos de saúde desta rede já são administrados por “bem feitores” como a Igreja Sal da Terra e a Maçonaria – Jesus, até você?). (informações MP520: http://www.sindilegis.org.br/edit/textos/arqupload/ano2011/mes2/MP52018022011Lucieni-201122121309.pdf) A presidenta Dilma que cortou 50 bilhões dos gastos da União para pagar a dívida externa (dinheiro que os EUA recebem felizes e investem, para tristeza do mundo, em armamentos e mais imperialismo), além disso, ela adiou chamada para concursos públicos e congelou outros (enquanto isso, segundo o MEC, só nas universidade federais o Brasil tem um déficit de 16000 professores).

Calma, tem mais coisa. E esta merece até um parágrafo próprio: Copa do Mundo 2014! Não, não, não, brasileiros apaixonados por futebol (pra lembrar aquele cara que bem que podia ficar mudo, Galvão Bueno), o problema não é o futibas! Mas alguém já viu a demanda de obras que esse evento tem? Super bacana: metrôs, estádios, alojamentos, hotéis e etc. (mais $ da saúde, educação, previdência pro circo brasileiro. Só não se esqueçam que para receber gringo, tem gente que quer botar a casa em ordem, ou seja limpeza da pobreza, no português claro: despejo! Gente já sendo despejado de suas casas ou de suas não-casas porque fica feio pobre na rua, pobre no meio do caminho do metrô, pobre no lugar do futuro moderníssimo centro de esportes, pobre, pobre, pobre, como tem pobre né? Vai fazer o que? Matar? Não, não todos, deixa vivo, que o pessoal vai precisar de flanelinha guardador de carro, de gente vendendo água na fila, essas coisas...).
(Informações despejos da COPA: http://www.clicrbs.com.br/esportes/rs/noticias/futebol-copa2014,3302094,Ministerio-promete-apurar-denuncias-de-despejo-e-remocao-de-familias-devido-as-obras-da-Copa.html) (http://brigadaspopulares.blogspot.com/2011/05/copa-sim-despejo-nao.html )

Bem, enfim, cansei... O fato é que, por participar do movimento estudantil, sempre tive o hábito de reivindicar (ou sou do movimento estudantil porque reivindico). Uma coisa de cada vez, claro! Não da pra sair por aí reclamando de Deus e do mundo, tem que escolher bandeiras prioritárias, para que só assim surta algum efeito nossas lutas organizadas (é estranho mas é assim que a gente chama). Mas cá pra nós, ta foda! Não tem como escolher não... Não tem o que pode ser destacado de pior entre tudo isso que sem muito esforço fui listando. Esta dura realidade, eu e uns amigos chamamos de MERDA NO VENTILADOR. Focar está cada vez mais difícil, então a gente brinca (mesmo que brincadeira não seja o tom desse monólogo): Contra essa merda toda!! É que já jogaram no ventilador, gente, sintam o cheirinho fedegoso... Não adianta desviar não, porque vai bater na sua testa. OK, fecha o vidro do carro e liga o limpador do pára-brisa, mas o cheiro não passa e o motor vai queimar. Ta tudo afundando na merda...
E sim, provavelmente eu esqueci de alguma merda dessas grandes e fedidas, mas você, não se esqueça.

Fecha parênteses.
Abrem olhos, ouvidos, abre a boca!

Meu otimismo suspeita que tudo tem limite, e abre alas, que o povo vai passar.

sábado, 7 de maio de 2011

chega perto, pra sentir palpitar

você, que me levou pra passear lá fora
sentir o sol da manhã
e saber que pra brisa suave não precisa agasalho,

quando esbanja seus sorrisos,
mesmo aqueles no fundo amarelos tristes,
faz sorrir (e até cantar!) quem está perto.


E tem sempre guardado um abraço
que é pra afagar,
pra eu achar o porto e o cais
depois da vida turbulenta.

Você é o chão e a brisa fresca de uma manhã de domingo ensolarada.
Não tem nada que eu gosto mais que manhãs ensolaradas.

fluxo-corrente

Se eu só puder escrever eu vou escrever. Eu sei. De que me serve? Não sei também. Mas Hilda Hilst me mostrou o quão profundo para as vísceras pode ser o fluxo da escrita.Enfim, estava falando de escrever do que me come por dentro. Sempre esses vermes me abrindo buracos, vermes verdes, brancos, dentuços. Uns Pac Mans. Ai os buracos, seus medos obscuros. Meu eu afundado, esburacado. Aflito. Quem sou eu? Mais essa conversa não poderia ir pra um rumo mais clichê mesmo. Enfim. É a pergunta que nunca dorme. Como pode ser eu dilacerado? Uma vida segura, isso é amor verdadeiro! O cara está falando na TV. Sabe, não me importam se são verdadeiros os amores. Como não seriam se os chamam assim? Eu gosto de amar, gosto também de. Eu só sei ser assim.
Olha, uma parte do meu eu. Caramba. Por que deus só fez a gente com os olhos voltados pra fora? As janelas nos mostram o mundo, mas não nossa casa. Mas também de que adianta? Vai que esse é o sentido mesmo.
Sobre amar. Amar. Talvez isso seja uma das partes do meu problema. Amar demais. Ah não! Por que amar demais? Se amar já é mais um pouco? E esse pouco. Eu quero o orgasmo dos braços, do cérebro e dos tendões. Oh, que imagem. Mas querer não é poder menina, pega o tempo e ponha-o na coleira pra passear. Não vai longe que o jantar vai ficar frio. Ou mofado. Na mesa.
Agora já não sou eu que pareço escrever. É um ser eu. UFA... Mas é um velho de caximbo numa cadeira de balanço na varanda de casa, ou com abajur na sala. Ó, não eu. Mas velha, agora?
E o que me dilacera? Dilacera. Perceba a arrogância da palavra , pois estou em pé. OK, sentei.
Traumas, temos uma vida toda baseada neles. Não uma, todas.
Mas sabe, parece que o fluxo vai virando lagoa. Há. E se eu continuo sem saber o que fazer, continuo. A vida é assim. Pelo menos a minha tem sido. Ainda ando esperando formulinhas mágicas para ter sido. Acontecer. Formulinhas por baixo do tapete ou no bico do pássaro azul.

O melhor dessa maneira de escrever é a sua inocência em ser. Vai sendo.
(1º de maio)